quinta-feira, outubro 23, 2014

Tempo

Pesadas correntes,  a ilusão das tuas horas
fraude cruel, que em mim arrasto
breve o passo, quase escasso
E o peso do grilhão, curva-me as costas.

Crente, fiz-me peregrina no lento espreguiçar 
destes teus dias.
E é o frio do metal que hoje me corta, 
o rasgar de cada sonho na pele morta...

Eram ávidos os sonhos, fíctas as esperanças , vãs as metas?

Tempo, não te acredito.
Sobras em mim, aviltado, aflito,
deixo nos teus braços, o tumulto dos abraços
que em mim enlaças.

Docemente...despedaço a corrente, erguem-se as costas.
Não o mereço. Mas liberdade é o único elo que te peço.
Fazer um novo palco com esse resto.
Escrever à sombra baixa das cortinas, uma história,
sem as plateias constringentes de uma vida,
Sem o devaneio burlesco da memória.

Os fantasmas que esqueci nessa saída,
que os carregues, paciente, ao deixares a minha porta.
Porque o corpo seca, em cada despedida
as cicatrizes do delírio de uma rota.