tag:blogger.com,1999:blog-131755752024-03-07T06:19:38.894+00:00EktaTenho um coração que me bate no peito.
Nas mãos, a esperança de quem começa. Nos olhos um brilho indeterminado de força e de criança.
E o sorriso...um manto de calma nas madrugadas.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.comBlogger40125tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-30561114444525785562014-10-23T00:42:00.000+01:002014-10-23T17:41:58.440+01:00Tempo<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Pesadas correntes, a ilusão das tuas horas</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
fraude cruel, que em mim arrasto<br />
breve o passo, quase escasso</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
E o peso do grilhão, curva-me as costas.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Crente, fiz-me peregrina no lento espreguiçar </div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
destes teus dias.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
E é o frio do metal que hoje me corta, </div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
o rasgar de cada sonho na pele morta...</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Eram ávidos os sonhos, fíctas as esperanças , vãs as metas?</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Tempo, não te acredito.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Sobras em mim, aviltado, aflito,</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
deixo nos teus braços, o tumulto dos abraços</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
que em mim enlaças.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Docemente...despedaço a corrente, erguem-se as costas.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Não o mereço. Mas liberdade é o único elo que te peço.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Fazer um novo palco com esse resto.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Escrever à sombra baixa das cortinas, uma história,</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
sem as plateias constringentes de uma vida,</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Sem o devaneio burlesco da memória.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Os fantasmas que esqueci nessa saída,</div>
<div style="margin-bottom: 0cm;">
que os carregues, paciente, ao deixares a minha porta.</div>
<div align="JUSTIFY" style="margin-bottom: 0cm;">
Porque o corpo seca, em cada despedida</div>
as cicatrizes do delírio de uma rota.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-43366182658815238782014-08-05T23:37:00.003+01:002016-02-18T23:50:09.326+00:00O voo da Garça<br />
<br />
V. fora o primeiro amor de I. E os seguintes que buscara nas outras mulheres, que só o conduziam de volta a ela.<br />
<br />
Recordava-se ainda de quando a conheceu, menina pequena e delicada. Gravara em si todos os detalhes. Era um dia vulgar de Outubro, as nuvens agitavam-se de um tom cinzento, pincelando o céu de uma cor monótona e pardacenta, numa melancolia infeliz. Como aquela que ele sentia nela.<br />
Ela tremia de medo e de frio. Os olhos castanhos amendoados e grandes, semelhantes a dois sois, brilhavam timidamente. O cabelo vermelho encaracolado, escondia-se numa touca escarlate, e uma madeixa pendia, em desalinho e encharcada, nos seus ombros.<br />
<br />
Lembra-se de ter pensado, mesmo sem falar, mesmo antes de o saber dizer. “É tão feia”, acabou por pronunciar. A menina largou a mão de O. e poisou os olhos nos seus, oferecendo-lhe o seu maior sorriso, para sempre deles. Ensinou-a a falar a sua língua, para ela um idioma confuso e estranho, e ela contava-lhe do seu país onde a terra era cinzenta e os bairros tinham nomes de santos.<br />
<br />
Com ela descobrira novas palavras para o mundo, correndo pelo porto de Vyborg, que deixavam cobertos de pegadas, sempre a par e par. E, ao fim da tarde, viam o pôr-do-sol atrás do mar imenso que ela tanto temia, quando viera de barco. Percorriam juntos o globo terrestre, ouvido vezes sem conta a sua história interminável da sua viagem pelo mar.<br />
<br />
Com ela aprendera a rezar. Hoje, mesmo que quisesse, nenhuma dessas rezas conseguia evocar, porque a memória silenciava-lhe a voz baça na garganta. Fizeram-se cúmplices, viajantes dos mesmos lugares e companheiros dos mesmos dias. Com ela aprendera a partilhar. Primeiro a sua cama, grande demais para o conter sozinho, e pequena demais para os aconchegar. Depois os seus segredos que compartilhavam numa descoberta curiosa e constante, iniciada lado a lado, nos mesmos bancos de Escola.<br />
<br />
E quando o amor surgiu sem razão, nos corações unos e indivisíveis dos dois, com ela experimentou pela primeira vez o gosto da saliva misturada na sua. Percorria a sua pele onde escrevia com os lábios os nomes mais ternos, inventados juntos, numa promessa conjunta de jamais se deixarem. Mas a vida tinha que os testar.<br />
<br />
A primeira vez fora ele a deixá-la, perdida e submersa em dúvida, engolindo as lágrimas que o seu orgulho forçava travar. Mas I. voltara. E encontraram-se. Dois seres que se lêem e adivinham um no outro, em ânsia, numa angústia irreparável que não se pode serenar.<br />
<br />
Da segunda, fora ela quem lhe virara costas, sem remordimentos ou explicações, selando o seu destino com a batida compassada de uma porta de café. Porém, ele teimava em encontrá-la. Suspenso num amor raro, curto e talvez por isso forte demais para ser contido. Era sempre aquele amor intenso, embebido nele que o guiava até ela, numa sede incontrolável de a buscar.<br />
<br />
E apesar de saber que o caminho com V. o conduziria sempre ao mesmo beco desabitado e frio, a sua alma era dela. Estava entranhada nele, como carne da sua carne que lhe ardia como um vício, perdidos um no outro, sem forma de voltar.<br />
<br />
Para eles, contudo, não haveria próxima vez. E I. assustou-se. Porque ela era a sua rota. Sem ela, apenas o vazio dos dias remoídos numa reminiscência intemporal. Sem ela, apenas um espírito torturado numa carência íntima, tumoral.<br />
<br />
E algo em si se quebrou. Perdeu a conta das horas, dos dias que se somavam sempre iguais, perdeu o norte da bússola que enterrara em si; numa dor interna inexplicável fixa nele, que o seguiria até o fim dos seus dias, quando ela, o seu chão eterno, se extinguiu consigo, diluída no seu último sopro de vida<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Saga, uma história por contar...ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-62429628630448177802014-07-29T23:17:00.001+01:002014-07-29T23:17:58.284+01:00MetadeEra fácil.<br />
<br />
Deixava-se arrastar<br />
em lentos passos pesarosos.<br />
Toda a segurança morava ali,<br />
naquele pequeno inferno sedutor.<br />
E soluçava errante, cabisbaixa,<br />
submersa, numa dança.<br />
Dava um passo, depois outro.<br />
Tanto tempo passara quieta,<br />
contemplando a vida que passava<br />
pela estrada.<br />
Já se esquecera, do impulso,<br />
que a impelia a caminhar.<br />
<br />
Era tão fácil<br />
<br />
curvar os sonhos num soluço,<br />
parar no curso<br />
e passear o pesar,<br />
alastrado, vagaroso, com cuidado,<br />
tacteando, um por um,<br />
os seus recantos<br />
embebendo-os, complacente<br />
numa lenta necrosão.<br />
<br />
Era simples.<br />
<br />
Num suspiro, dar-se por vencida,<br />
num murmúrio, entregar a vida,<br />
a um doce desespero.<br />
Apenas um corpo,<br />
a sós, com a sua dor, que o corroía,<br />
cada vez mais, dia pós dia, com esmero.<br />
<br />
Era tão seu esse mundo,<br />
onde, sozinha, se encolhia,<br />
para que coubesse toda nele,<br />
serena, indolente.<br />
Que agora, percebia,<br />
pisava os estilhaços<br />
de si mesma, amputados, pelo chão.<br />
<br />
Era o seu corpo que morria,<br />
sem se debater...<br />
Sorriu, ao sentir-se morrer<br />
Outra metade nascia<br />
uma que não lhe pertencia,<br />
que não lhe cabia no mundo<br />
e que não ía deixar perder...ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-57275513592881339852014-07-28T02:19:00.003+01:002014-10-20T17:53:52.670+01:00A ti..Tudo foi dito, meu amor, nesse compasso.<br />
E no desconcertante, exílio do silêncio,<br />
ergui um espaço escasso, onde repouso,<br />
confessada, e em suspenso.<br />
<br />
No encontro dos meus pés com o caminho sempre me debato,<br />
rebate etéreo e febril, com o teu tacto.<br />
E é ausência de mim isto que sinto, no contacto<br />
sem dizer.<br />
<br />
Queria tanto que me arrependesses.<br />
Que me trouxesses tempestades aos olhos,<br />
e devolvesses os sismos ao meu chão.<br />
E pudesse o amor revirar as entranhas.<br />
Queria arrancar-te a vida num só beijo e<br />
devolver-ta, maculada nos meus fogos e paixões.<br />
Guardo em mim uma vida que transborda,<br />
leal, nos meus lamentos.<br />
E queria que me arrancasses os tormentos,<br />
dessa vida, que em silêncio te ofereci.<br />
E pudesse o amor amar mais, na despedida<br />
amar-te-ia mais uma vida, um pouco mais<br />
só para te ver partir...<br />
<br />
A ti<br />
<br />
Que agora foges do silêncio que te frustra,<br />
Que me prometeste dar à vida infernos e vulcões.<br />
A mim, que nada mais criei que as ilusões<br />
Arromba-me a porta, derruba-me os muros<br />
devolve-me os vulcões<br />
<br />
Ouves-me?<br />
<br />
Faz da minha quietude um vício e a tua rota<br />
e quando, em rendição te vir, cansado, regressar,<br />
nos passos, que em contramão já percorreste,<br />
Peço-te<br />
Vamos dançar o tango. Esquecer a luta,<br />
que inevitavelmente, perscruta<br />
todas as danças que a vida tem...ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-18881821688278106922012-06-26T15:41:00.000+01:002014-10-20T17:40:46.690+01:00Transgressão<br />
<br /><br />Dá-me um segundo. <br /><br />Não sabes que caí, mais uma vez, neste meu chão. <br />Fiz dele o meu percurso, traçado nas minhas derrotas, anulado nas minhas lágrimas, de novo alçado nos meus sonhos, em cada sopro de uma ilusão.<br /><br />Mas, não sabes que fui eu.<br /><br />Que me desacerto, engano e decomponho nessas rotas, e que, em medo, me escondo, tentando fugir-me, escapar-me, em exasperação.<br /><br />E estendes-me a mão...<br /><br /><div style="text-align: justify;">
E é sempre minha a culpa, de fazer tão sinuosas estas vias, de lançar-me tortuosa a tudo o que somos, errante entre tudo o que perdemos…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dá-me um segundo. Só mais este. Não afastes a tua mão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Enquanto a alma procura, uma vez mais, destruir a inflamação. Perdi, mais uma vez, a minha história, nos interlúdios desta culpa. Perdi-lhe o tom, o trecho, o enredo, a impressão. </div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
Sabes, gostava de poder contar-te a minha história, sem o muro de palavras que erigi. Com um sopro de ânimo desfazê-lo, taciturno, quedo comigo, neste chão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Não me faças perder também, num segundo, a tua mão.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E são tão vãos estes sonhos, que se abatem, tão estéreis, quanto o frustre das derrotas, tão fúteis como o enlaço das vitórias…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Dá-me só mais um segundo. Que eu quero erguer-me do meu chão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E por um segundo, poder deixá-lo impune pelas rotas, erguer-me das derrotas, anular-me da culpa, desta minha vida em transgressão. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E o teu segundo é o muito que te peço Nesses fragmentos de pó que despedaço pelas rotas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E pode o segundo ser maior que a vida. Quando nele se conclua tudo o que somos, tudo o que fomos, tudo o que perdemos… </div>
</div>
<div>
<div style="text-align: justify;">
e te cole de novo a vida ao coração.</div>
<br /></div>
ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-35397589819242134432011-08-23T19:09:00.003+01:002011-08-23T19:38:25.728+01:00Princípio<i>“Senta-te. A história é longa. (...) poderás saber como perceber melhor o tempo...” </i><br />
Assim falou ternamente a voz (...)<br />
<br />
<br />
Parou. Parecia que nada mais resistia a não ser o momento. Nada mexia, e no sideral vão do meu peito só entendia o coração pulsar. Dali a poucas horas também ele deixaria de viver. Contudo, a Terra continuaria a mexer, imperceptivelmente, num novo dia. Do seu centro, continuaria a cuspir fogo, inalterável, constante. Alheia à minha presença ou a qualquer outra existência que habitasse as suas entranhas, perduraria…<br />
<br />
<i>“Deixa-te estar.” </i>- Continuou – <i>“Não há pressa, o tempo todo molda-se ao nosso dispor”.</i><br />
<br />
Balançou suavemente o corpo esguio até encontrar o beiral. Sentou-se, procurando definir a trajectória que os meus olhos encetavam. Pareciam perdidos na vasta imensidão minúscula que se delineava do alto do telhado. Aproximou-se mais e sentou-se ao meu lado, poisando calmamente as mãos grandes e elegantes nos joelhos, retomando a fala.<br />
<br />
- <i>“Quantas pessoas achas que já passaram por aqui?”</i><br />
<br />
Os meus olhos voltaram a si e responderam-lhe, cáusticos e incisivos, num mutismo agitado que já não davam valor a nenhum tipo de vida.<br />
A voz aflita, tão emocionada quanto confusa, alcançava-me, disseminada nas explosões.<br />
<br />
<i>- Desculpa! Perdoa-me ter-te abandonado,</i><br />
<br />
Comecei por fim a entender a razão que me levava ao cimo do telhado e a história que acabara irremediavelmente por levar-me àquele fim. <br />
<br />
<i>- …e perdoa-me o que te estou a pedir…</i><br />
<br />
Desinteressadamente, quase como se adivinhasse a resposta, levantou as mãos para o nada, balançando-as ao ar, por cima dos pequenos pontos vivos que se desenhavam abaixo, sob o raiar de um novo dia. <br />
<i>“Antes de concluíres o que vais fazer,</i> <i>antes de te alçares deste beiral e te atirares para o vazio que te espera lá em baixo, quero que te perguntes: </i><br />
<i>- Quantas pessoas seriam precisas para fazer tempo?”</i><br />
<br />
Inclinei-me, preparando-me para saltar. Sentia o coração pulsar-me na garganta. Dali a poucas horas também ele deixaria de viver. Contudo, que assinatura teria eu deixado nos caminhos por onde passei? Sempre de fugida, sempre furtiva, sempre brusca demais, sempre com medo…sempre…<br />
E aqui começa, ou acaba, a minha história. Sei que, ali, deitada naquele chão, coberta de destroços, podia adivinhar uma ténue pulsação. Não a minha, que cessava, mas a da Terra, feliz e em liberdade. Se me aproximasse, podia ouvi-la respirar.<br />
<br />
<i> </i>In<i> "Saga, os Dias da Ira". </i><br />
<i><span style="font-size: xx-small;">[quem quiser mais, é só pedir :P]</span></i>ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-50138253033563219722011-07-06T23:01:00.000+01:002011-07-06T23:01:10.761+01:00ConclusãoAdeus, apertado sufoco deste eterno coração. <br />
Escrevo-te outra história. E nos traços do que escrevo, dou-te novas linhas. Retiro-te da reclusão.<br />
Rematei-te com as formas que me deste. Inacabado, mutilado, imperfeito. Livrei-te de mim, da minha infecciosa lentidão.<br />
Fiz-te em linhas férreas, para que domines os cursos do meu sangue. Porque os ecos dos meus gritos não te alcançam. Dou-te um propósito. Outra intenção.<br />
Porque a solidão é uma moléstia que gangrena. E a inércia, uma consentida solidão. A independência é a nova história que te cedo. <br />
Fomos uma só cadência. Trinaste os compassos neste peito. Bateste com ânsias, com sede de muito, em sofreguidão. <br />
Adeus, velho coração. Completo a narração.<br />
Quero saber-te sepultado noutro peito, imerso noutra mão. Fora de mim, possas bater, mais devagar.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-56918202470474090752010-11-29T14:35:00.003+00:002010-11-29T15:17:55.897+00:00FrioJá te falei do frio. Mas não de mim. <br />
Nunca te disse, <br />
Porque as palavras magoam-me as entranhas e não quero remexer na minha dor. <br />
Entreguei-me, desfeita. Procurei que o silêncio fixasse, como gargantilha, a minha essência asfixiante no pescoço. <br />
Percebes então porque não te digo? <br />
Talvez não goste das palavras que decidem. Ninguém dispõe por mim. Nem a sentença escusada das palavras.<br />
Mas o silêncio é sempre um esforço vão.<br />
Nunca te disse…<br />
Que a sorrir, assalto os meus sentidos.<br />
Arranco a gargantilha que sufoca. <br />
Forço-me às palavras. Deixo que me trilhem as entranhas. <br />
Ainda gosto de saber como sou por dentro.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-40167438891651692522010-11-23T19:23:00.000+00:002010-11-23T19:23:25.966+00:00RendiçãoEntrego-me. <br />
Fazer valer a pena a caminhada, <br />
Deixar a solidão e a estrada.<br />
Poisar no chão a minha história. <br />
Deixar nos trilhos os meus passos. <br />
Ser forte. <br />
Erguer o rosto, não o coração.<br />
Derrubar a resistência das palavras, <br />
Alçar-me do silêncio que me veste.<br />
Nunca, é a promessa. <br />
Consumir-me nos lamentos que me assistem. <br />
Ser forte. <br />
Calar as vozes e a emoção.<br />
Não abafar o que ajo, Enterrar a história.<br />
Num esquecimento de memória, desaprender a estar aqui. <br />
Ter coragem de estar em mim. <br />
Deixar tocar o que se vê de mim. Ver, que falhou, <br />
ter a aparência como companhia. <br />
E na sabedoria desse toque, <br />
Largar a minha mão da tua,<br />
Ter como último retoque, o sufoco de ser livre.<br />
Entregar-me.<br />
Em brisa. Veres-me passar. Em ventania<br />
Forte. Ultimo aviso. <br />
Só dói no começo. O temporal, medes no fim.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-76893907164361561312010-07-15T18:34:00.001+01:002010-07-15T19:31:49.651+01:00ConstruçãoFiz de mim página em branco, num exíguo colo cerceado. <br />
Um silêncio que aperta e se sufoca, num espírito consumido e apressado. <br />
Alguma coisa menor a que retorno. A parte invisível do meu ser que luto. <br />
Ardem desfeitas as cinzas das lembranças que fundei.<br />
A dor inutiliza e transforma. Vicia, corrompe, seduz, deforma. <br />
Mas o peito não sangra, nem o coração se arranca num remate. <br />
E na construção reduta em que me ergui e me transformo, <br />
vive inalterável numa massa contráctil. E as veias levam o seu fluxo, <br />
como um curso. Até ao átrio vazio desta face em que me anulo. <br />
Um particípio vão e indefinido, revogado, prazo gasto.<br />
Ponto esquivo as minhas roupas. Local estranho que criei. <br />
Que também elas sejam cinzas nos teus braços. Não quero <br />
esconder mais a minha pele.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-24161220741563874562010-01-03T03:34:00.005+00:002010-01-03T03:59:36.707+00:00Contrição<div style="text-align: center;"><span style="color: #666666;"><em>"Não é o que você não faz</em></span><br />
</div><div style="text-align: center;"><span style="color: #666666;"><em>Não é o que você não diz</em></span><br />
</div><div style="text-align: center;"><span style="color: #666666;"><em>é o fato de não ver nos seus olhos </em></span><br />
</div><div style="text-align: center;"><span style="color: #666666;"><em>(...)"</em></span><br />
</div><div style="text-align: center;"><span style="font-size: x-small;">Andreia Horta; Humana Flor (a inspiração continua)</span><br />
</div><div style="text-align: center;"><span style="color: #cc0000;">-----------------------------------------------------------</span><br />
</div><div style="text-align: center;"><br />
</div><div style="text-align: center;">É o que pensas que omites e me foge.<br />
O querer esmiuçar ao limite da loucura,<br />
os rodeios onde a dúvida embarga.<br />
Querer encontrar-te. O perder-te, <br />
nas muralhas das palavras que contróis e <br />
esfarelam o meu peito de papel.<br />
Escapas-me.<br />
No escrúpulo que suspendes e se atalha.<br />
No eco da mentira que declamas.<br />
Vê-la crescer, farta, pública, manifesta.<br />
A alma baralha e apodrece.<br />
Olhar-te nos olhos. <br />
Onde talhas a mentira que te veste.<br />
Insistes. <br />
Porque não és tudo o que dizes.<br />
(Des)iludes<br />
Abres-me uma cova no peito.<br />
O coração cresce, amolgado, <br />
de encontro ao peito. Enche de dor.<br />
A lágrima ferve, a pele escalda,<br />
apertada, cruel.<br />
Cai-me na alma, desbotando-me o papel.<br />
O peito abre. O coração perfura.<br />
O sangue inunda.<br />
Extingue o cheiro decomposto da mentira.<br />
A esperança expira.<br />
A lágrima cai, uma após outra.<br />
E o que importa?<br />
Não me anulo nas muralhas que erigiste.<br />
Não sou mais uma borra tua.<br />
Tu és apenas as palavras que mentiste,<br />
escritas no papel, que empalidece.<br />
Não finjas a verdade que te burla!<br />
Mata em ti esse logro que jugula.<br />
Dizer de cor, não fala.<br />
Um dia, a alma ressente, e conquanto tente<br />
a garganta cala, a boca desmente, <br />
o anúncio burlado que ainda consente.<br />
</div>ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-89447969543082882002009-12-16T21:24:00.023+00:002009-12-22T09:59:38.974+00:00Morrer sem vida<div align="center"><em><span style="font-size:85%;color:#666666;">“A flor morreu<br />O ciclo acabou amor<br />(…)<br />Inchei de dor<br />(…)<br />Arrebentei, arrebentada<br />A dor é de vidro<br />(…)<br />essa repulsa me corta<br />Mas não há de ser nada<br />Não há saudade!<br />A flor morreu<br />(…) coitada<br />Despedaçada.”<br /></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;color:#cc0000;">-----------------------------------------------</span></em></div><div align="center"><span style="color:#666666;"><em><span style="font-size:85%;">Vou (…) fazer poesia<br />E amar. (…)<br />E só então quando finalmente meu coração<br />Aprender a bater devagar<br />Eu possa começar<br />A morrer.”</span></em><br /></span><span style="font-size:78%;"></span></div><div align="center"><span style="font-size:78%;"></span> </div><div align="center"><span style="font-size:78%;">"Humana For"; Andreia Horta </span><br /><br /></div><div align="center"><span style="color:#000000;">É isso! E este é o meu grito. </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Desejei, busquei, esperei, cansei, torturei-me e torturei.<br />Hoje, só cansei.<br />Não sou quem vive em ti.<br />Eu não vivo em mim!<br />Despedi-me de mim. E para onde vim?<br />Hoje, sei que não se pode viver dos sonhos. </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Mas que neles se embebem todos os olhos, para avançar.<br />Quero parar.<br />Por um segundo, apenas um segundo, </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Com cuidado despedaçar tudo o que idealizo. </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">E sentir no penetrante toque do vidro que pisar, </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">todas as dores a abrandar </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">os pesos compassivos, estilhaçados pelo chão.<br />A minha dor não é vidro.<br />Tantas vezes a atirei para o chão e a pisei. </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">E ali permanecia, intacta, </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">cravando-me desdenhosa, as unhas, bem fundo no coração.<br />Dói-me, apertado, esse coração que ainda sangra.</span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Bate maquinal e apressado, em busca, iludido com regeneração.<br />E não sei falar de mim.<br />Dá-me a mão…<br />A dor embebe-se profunda, retalhando-me o pulmão.<br />Demora-se, estacionada, </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">bebe-me a alma, </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">arrepela-me o sangue, </span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">entranha-se na pele, deslizando nela, como cetim.<br />Eu bem disse que não te prometia.<br /></span><em><span style="font-size:85%;color:#000000;">(… Não podes amparar-me o peso de todos os soluços tristes<br />que guardo em mim...) </span></em></div><div align="center"><span style="color:#000000;">E que não sabia o que falar de mim…<br />E gosto de viver assim.<br />E é só isso...<br />Recorto as memórias como a um xaile de lamentos,<br />Coloco-o sob os ombros e acalento a solidão …<br />A alma definha, moída e morta.<br />Digo-me adeus...</span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Quando saíres, por favor, fecha-me a porta.</span></div><div align="center"><span style="color:#000000;">Morrer sem vida, não me doi nada.<br /></span></div>ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-90599178174298668382009-12-15T22:10:00.010+00:002009-12-22T10:02:42.881+00:00Palavras e um café<div align="left">Sabes aquele momento em que percebes que nada mais tens a perder?<br />Cansaste-te de abater a vida em apostas, em acordos sem razão de ser. Olhas para o presente com olhos de futuro, e no futuro, não podes viver. Tens nas mãos as armas que dizes usar para crescer. Até hoje, só te ousaram magoar.<br /><br /></div><em><span style="font-size:85%;"></span></em><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="left"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"><span style="color:#666666;">“Percorria aquela escadaria de mármore branca e olhava para as colunas romanas (a primeira vez que soube ver). É um sonho, apenas um sonho (mas mesmo no sono, ainda os sei reconhecer). Desci a escadaria e piso a esplendorosa relva. O vestido branco de princesa (porque o sonho é o único lugar onde o posso ser), esvoaça com a leve brisa perfeita que se agita no ar, e nos passos dos meus pés desnudos sinto a relva a tocá-los, levemente, como o sopro daquela brisa. Pura, numa ingenuidade quase natural, caminho, lentamente.”</span><br /></span></em><br /></div><div align="center">Sabes aquele momento em que outra alma te reconhece?<br /><br /><em><span style="font-size:85%;"><span style="color:#666666;">“Foi aí. Simples, básico, belo e evidente, poisei os olhos no pintor que brandamente, pintava um pôr-do-sol numa tela em branco. Não sabia, não conhecia, mas podia dizer, porque o meu sonho nunca mente, que dali nasceria um magnífico e único pôr-do-sol. A hora em que nasci.<br />Ele poisou o pincel. A camisola vermelha em contraste com o céu misturava-se nos meus olhos e sorri, timidamente. Tu levantaste-te do singelo banco de madeira (porque o singelo é a única forma real do ser) e estendeste-me a mão. E então, não sinto. Nem dor, nem perda, nem tristeza, só amor.<br />O sorriso abre-se no reconhecimento do bem-querer. ‘Ficas tão bonita, quando sorris’.<br />(Porque ali, apenas vês a minha alma, e não a gaiola onde se encerra).<br />Podias ter dito. Sem falar, com as palavras que lerias dos meus olhos. Mas não disseste. Porque (e não te esqueças de que é tudo um sonho) eu não gosto das palavras, e não me queres ver triste, não me podes desapontar). Serenamente, dei-te a mão, caminhando lado a lado. ‘Não podes estar aqui’.<br />Falaste, num tom terno, melodioso, com o mais belo sorriso, o primeiro que realmente estava a ver. A relva não era lugar para a minha alma, que ainda tinha muito a percorrer. Juntos, subimos as escadas, e (como nos sonhos não existe tempo) sentámo-nos. Afinal, naqueles momentos, eu era dona do mundo.<br />Gentilmente, porque não me querias assustar, poisas-me a mão grande e delicada no ombro. Com o toque, arrepiei. Como era macia a tua pele. E como a conhecia, mesmo sem a ter tocado, mesmo sem te ter visto.<br />O beijo surgiu naturalmente, como o devem ser todos os beijos, puros, sinceros, naturais.<br />E dos teus lábios, a promessa: “Encontrei-te, e hei-de encontrar-te sempre…”</span><br /></span></em><br /></div><div align="left">Acordas, e sabes que nada mais tens a perder, a não ser a espera. Mas o meu sonho não mente, e sei que hei-de encontrar-te.<br />Não sei se fugirás com repúdio da figura, se te arrependerás, mesmo antes de chegar. Só sei que os meus sonhos sempre se revelaram e este, mais uma vez, não mente.<br />Caminho lentamente pelos bairros iluminados com a alegria do Natal. Todas as janelas cintilam, menos eu.<br />Enquanto caminho, procuro-te em todos os olhos, em cada gesto, talvez te possa reconhecer. Não sei se desta vez me reconhecerás, uma vez que não trago vestido o meu traje de princesa, nem sou apenas a minha alma, mas todos os outros pesos em que a vida me soube transformar.<br />Ao longe, uma porta de café, quente, reconfortante. E, de repente, quero entrar. Sento-me na última cadeira, a do canto. Não vás tu chegar, e sabes como gosto de recantos…<br />Não te conheço, nunca te vi, já te senti. E peço-te ao anoitecer, com a inocência de um desejo de criança, que chegues brandamente, ao raiar de um novo dia. O verdadeiro começo, o novo dia, o ínicio do viver.<br />Bebo calmamente o meu café, esquecida de como lhe gosto do odor. Automaticamente, retiro uma caneta da carteira e começo a escrever.<br />No papel deposito calmamente estas palavras, deixando-as repousar. Espero mais um pouco, mas não te vejo chegar. </div>Pego na caneta e poiso o pires do café sob a folha. Podes chegar atrasado, e acabar por ler. Agora posso sair porta fora e voltar. Ao mundo onde sorrio, onde tenho sempre uma palavra de alento a dar, onde, aos outros, sempre faço bem, onde conservo o meu sorriso, arma do dia-a-dia, que aquece tanto e tão bem...<br />Levanto-me e caminho até à porta. Lá fora, já anoiteceu. Faz frio.<br />Aperto o casaco vermelho contra o peito, e ainda aperto a caneta contra a mão.<br />Maquinalmente o olhar foge para dentro, onde tudo é quente e hospitaleiro. O sangue corre-me nas veias, cada vez mais lento, cada vez mais frígido. Descubro a razão porque sempre tive frio. Tu não estás comigo, para me apertares de encontro a ti, sentindo-te abraçar-me, sentindo o corpo aquecer.<br /><div align="center"><em><span style="font-size:85%;color:#666666;">“ Não vives, não sentes, és de gelo e não existes”.<br /></span></em></div><div align="left">E caminho, hoje e sempre, mesmo que não venhas a aparecer, porque ainda tenho um rumo a casa. Só não tenho outra alma, que me saiba aquecer.<br />Agora, de volta, nas luzes de natal que me flagelam a ideia, vejo quem sou. Um corpo demasiado pequeno para uma alma que, teimosamente, o tende a corroer.<br /></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><span style="color:#666666;"><em><span style="font-size:85%;">“Encontrei-te e hei-de encontrar-te sempre”.</span></em><br /></span></div>A mim, que nunca te vi, mas que conheço os teus olhos e os cheiro, falta-me o beijo. Quando quiseres, sejas tu quem sejas, desde que o invisível possas e saibas ver, ainda te espero. Porque para mim não há longe nem há tempo.<br />E o meu sonho, não mente…<br /><br /><strong><em><span style="font-size:85%;"><span style="color:#666666;">“Façamos, então, o meu último contrato. Já que nada mais sei perder. Leva-me o corpo e deixa-me a alma, para que assim me possas, me possa, me possam reconhecer”.<br /></span><br /></span></em></strong>…lá dentro, o empregado leva na mão a minha chávena, e amassa o papel, que arremessa ao lixo, em mais um gesto rotineiro.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-82630202757772952602009-11-30T20:57:00.002+00:002009-11-30T21:03:41.431+00:0010 anosQuanto tempo se passou sem estarmos juntos? Pergunto-me, como se disso dependesse manter a tua presença em mim.<br />Lembro-me, com a memória presente de uma menina de 13 anos, o carro preto que nos encaminhou ao teu destino e os teus olhos inocentes, sem saber o fim. Senti, que enquanto tu estavas, apenas, porque te tínhamos levado até ali, eu estava prestes a despedir-me de quem mais queria. Hoje, quem me dera, então, tê-lo sentido.<br />Sem adeus, sem um toque, sem sequer te dar o beijo que me obriguei a conter, despedi-me de ti, apenas com o pensamento. O mesmo que ainda hoje me leva a ti.<br />Na caixinha de memórias que estimo, sinto nos meus dedos os finos fios dos teus cabelos, cortados imperceptivelmente no último dia, não fosse precisar senti-los. Quatro anos que se resumem assim, umas quantas roupas que ainda conservam o teu cheiro, a tua primeira chupeta e uns poucos filamentos de cabelo em que toco com cuidado, não vá perder algum. O resto, guardo em mim, só em mim, porque ainda hoje, falar ainda me custa. Sem saber, foste o meu primeiro sonho, aquele que mais pedi e ansiei numa noite de fim de ano em que fechei os olhos e ousei implorar. E foste-me concedido, numa entrega complacente com a força de um desejo de criança. E foste o meu sol, o meu pequeno menino sol, que me iluminou, mesmo sem saber. Foste quem eu mais amei.<br />Quanto tempo passou? Será que disso depende manter vivo aquilo que sinto por ti? As horas esvaem-se, o tempo desfalece, tu cresces, tal como a saudade que sinto por ti.<br />Na memória, ainda um telefonema de um menino soluçante que suplicava entre gemidos para o pesadelo terminar…e a minha voz, tão cheia da tua, da nossa, dor. Ainda tentava esperar que o tempo ousasse voltar atrás.<br />Uma visita, outro carro que me transportava até ti e o meu coração palpitante de menina-mãe. Os teus olhos, de um castanho doce de mel misturado com avelã, a correrem para mim. E a fuga, o partir ao fim do dia, a última vez, rogando que não me visses. Para mim, já bastava um só sofrer. A cabeça deitada com o cansaço, a ecoar a música que me costumavas pedir para te adormecer. <em><span style="font-size:85%;">Nada ficou no lugar Eu quero quebrar essas xícaras Eu vou enganar o diabo<br /></span></em>E quanto tempo se passou desde que nunca mais te vi? Os anos cresceram, a vida ganhou um outro rumo e o teu corpo cresceu. Sei que em sonhos, ainda te vejo tal e qual te deixei. Os cabelos loiros finos e brilhantes, tal como os da fotografia que conservo, viva em mim. E quantas dias já passaste? Quantas noites de frio? Sem mim…<br />Quantos anos passaste? Quantas velas apagaste? Hoje é só mais uma. Outra, sem mim.<br />Se cá estivesses, seria o teu dia, seria criança contigo, comeríamos bolo e desejar-te-ia o melhor que no mundo houver. Falaríamos de trivialidades e riamos até ser dia. Amanhã, será um novo dia para ti, para mim mais um igual. Como todos aqueles que preciso contar para estar certa de que passaram. Na minha boca, a promessa. Não me despedi. As palavras que não disse no pensamento, ficaram apenas em mim. Não disse, não quero dizer adeus. Não voltarei a encontrar-te, não o menino sorridente que guardo em mim. Ainda conservo a tua imagem nos meus sonhos e o teu cheiro. A música que cantavas com a tua vozinha infantil, ainda ecoa na minha cabeça, já erguida, e ainda te oiço em mim<br /><span style="font-size:85%;"><em>Nada ficou no lugar Eu quero quebrar essas xícaras<br /></em>“mana…eu quero tu…vem-me buscar…”<br /><em>Que é pra ver se você volta, Que é pra ver se você vem, Que é pra ver se você olha, Pra mim...</em></span><br /><br /><span style="font-size:85%;"><em>“Meu amor, tu vais ver, como é bom sonhos ter...<br />Amanhã ao acordar, tudo vais querer contar<br />E depois, voltarás a sonhar.<br />Só aos Anjos, a lua sorri…”</em></span><br /><br /><span style="font-size:85%;"><em>Nada ficou no lugar Nada ficou no lugar Nada ficou no lugar…</em></span>ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-17609118701589593612009-05-23T17:30:00.004+01:002009-05-23T17:45:33.367+01:00VERDEMais uma pérola do querido Patxi. Um poema lindo, tributo a García Lorca<br />Desculpem quem achar que este blog se está a tornar depósito de letras do senhor, mas a verdade é que esta merece.<br /><br /><br /><div align="left">Verde que te quiero verde, ¡ay!</div><div align="left">verde que te quiero verde.<br /></div><div align="left"></div><div align="left"> </div><div align="left">Los toros se han revelado,</div><div align="left">la impotencia llora y llama,</div><div align="left">y desde un río de sangre</div><div align="left">hay una voz que reclama, ¡ay!</div><div align="left">hay una voz que reclama</div><div align="left">la importancia de un amigo,</div><div align="left">poeta de cien mil lunas,</div><div align="left">garganta dura y hombruna,</div><div align="left">gitano de profesión, ¡ay!</div><div align="left">por quien hoy rompo yo la voz.</div><div align="left"></div><div align="left"> </div><div align="left">Verde que te quiero verde, ¡ay!</div><div align="left">verde que te quiero verde.</div><div align="left"></div><div align="left"> </div><div align="left">Se te escapó la mañana</div><div align="left">por detrás de la alcazaba,</div><div align="left">caminando ya sin prisas,</div><div align="left">amaestrando sonrisas, ¡ay!</div><div align="left">amaestrando sonrisas;</div><div align="left">y se tiñeron los campos</div><div align="left">verdes de la primavera</div><div align="left">cuando la nación entera</div><div align="left">cabalgó sobre tu llanto ¡ay!</div><div align="left">Tú poeta, y ellos tantos...</div><div align="left"></div><div align="left"> </div><div align="left">Verde que te quiero verde, <img class="gl_color_fg" alt="Cor do texto" src="http://www.blogger.com/img/blank.gif" border="0" />¡ay!</div><div align="left">verde que te quiero verde.</div><div align="left"></div><div align="left"> </div><div align="left"> </div><div align="left">Hoy el verso me reclama </div><div align="left">una luz y una llamada,</div><div align="left">un canto de cuerpo y </div><div align="left">almacomo el que el tuyo cantaba, ¡ay!</div><div align="left">como el que el tuyo cantaba.</div><div align="left"> </div><div align="left">Y el pueblo llora la calma,</div><div align="left">y canta porque se ahorca,</div><div align="left">y hace tu muerte inmortal</div><div align="left">cada vez que alguien te nombra</div><div align="left"><span style="font-size:130%;">Federico García Lorca.</span></div>ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-64359448279100929202009-05-18T12:19:00.007+01:002009-05-18T14:06:55.543+01:00Casa da Música, Patxi Andíon 15/05/2009Há dias felizes na vida de uma pessoa. Para mim esse dia foi esta 6a feira, quando tive o prazer de conhecer uma das pessoas mais interessantes que conheci nos meus 24 anos de vida.<br />Desculpem-me os leitores, mas <em>"me enamoré</em>" deste homem maravilhoso. Isto foi conversado na Guarda, às 03h da madrugada de Sábado...e parece que sou eu a falar.<br /><br /><span style="font-family:arial;font-size:78%;"><em>"Sigo pensando en mí como se de otro se tratase. Sigo preguntando 'quien és?' en lugar de 'quien soy?' Pasar el tiempo conmigo mismo me hace conocer mas cosas de mí. (...) Aúnque son las cosas que hago que mejor saben quien soy (...) No soy una improvisación constante, pero frequentemente mis actos no se parecen a mis versos. Se que casi todo me sobra. Solo ambiciono el tiempo. Consumido por la fiebre de vivir."</em></span><br /><br /><br /><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Se me ha dormido un sueño en el café</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Perdido por el tiempo de nunca volver</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">La tarde en el colegio y un corazón</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Clavado en el pupitre entre los dos.</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Estas algo más rubia y así de pie</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Pareces aún más alta de lo que pensé</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Cuando tú eras la envidia y yo el por qué</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Que tu padre decía me iba a perder</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Quiero echar la vista atrás</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Donde se encuentran</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Mi plumiere y mi compás y tus trenzas</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Y volver a rebuscar por un solar</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Yo mis ganas de pelear y tú el susto</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Que te daba no verme más a fin de curso. </span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Ay amor, amor primero...</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">y de segundo, tercero y cuarto...</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Ay amor, te quise tanto</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Cuando el beso era amor y el amor canto.</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Amor desde el gimnasio a la excursión</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Desde la geografía, amor sin razón</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Amor de tinta y tiza</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Amor de portal</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Amor de cada día y en cada lugar.</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Amor que aun ahora guardo en la piel</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">El beso, la caricia, el toque, temblor</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Amor perdido, amor de nunca volver...</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Camarero, por favor, otro café.</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Dónde están, donde se encuentran</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Mi plumiere y mi compás y tus trenzas</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Y volver a rebuscar por un solar</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Yo mis ganas de pelear y tú el susto</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Que te daba no verme más</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">A fin de curso.</span></em></div><div align="center"><span style="font-size:85%;"></span></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Ay amor, amor primero... </span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">y de segundo, tercero y cuarto...</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Ay amor, te quise tanto</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">Cuando el beso era amor y el amor canto.</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;">(2x)</span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="center"><em><span style="font-size:85%;"></span></em></div><div align="left"><span style="font-size:85%;"><span style="font-size:100%;">Patxi Andíon, Amor Primero</span></span></div><div align="left"></div><div align="center"><span style="font-size:180%;">Gracías a tí, Patxi</span></div><div align="center"><span style="font-size:180%;"></span></div><div align="left"><span style="font-size:78%;">Izzie, my person, muitas das músicas parecem escritas para nós ;)</span></div>ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-40678829125154459312009-03-11T15:39:00.000+00:002009-03-11T15:40:22.343+00:00SilêncioHoje que em nós não há mais nada que duas mãos afastadas.<br />Agora que o silêncio não é mais que um lento desviar de cada dia. Cala a tua voz bem fundo e nada digas.<br />O que sinto não quer ser dito. Não é dor, nem tristeza, nem amor.<br />Hoje que em nós não há mais nada que as iras do coração que aqui descansa. Deposito docemente o meu silêncio sobre o solo. Também ele se cansou de amordaçar-se em temporal.<br />Quantas vezes disse que te amava? E gritava, pedindo-te perdão…<br />Agora que entre nós nada mais há que a espera, dou-te a minha voz, tão frágil e farta de agir em conspiração. Levemente, sem palavras, afasto os meus olhos dos teus desconhecidos.<br />Em silêncio, porque me dói falar tudo o que não digo. Se falo só te mato o coração.<br />Hoje que em nós não há mais nada que a mudez que asfixia, cala bem fundo essa voz e nada digas. Cansei-me de esperar no meio dos caminhos.<br />Desculpa ter cruzado, um dia, o teu caminho. Em silêncio peço-te perdão.<br />Afasto os teus olhos pelos meus tão visitados. Levemente, poiso no solo as iras do coração que aqui descansa. Não me dispas do silêncio que me veste! Prometo-te a palavra! A voz agita-se. Só por hoje, que em mim não há mais nada que o timbre em guarda, falar ainda me dói.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-74270055075475732352009-02-11T21:42:00.001+00:002009-02-11T21:42:52.138+00:00EncontrosEle esperava por ela. Como quem respira, escutou-lhe os passos e viu-a aparecer.<br />Surgira do nada, com um à vontade sereno de quem nada teme. Olhou-a, de relance e fugiu. O coração conheceu-a e deixou de pular nos caminhos do seu peito.<br />Ela não queria, não esperava nada. Apenas que a deixassem solta nas planícies do seu ser. E cheirava a terra e o solo estremecia nos seus passos pelo chão.<br />Ele perdeu-se nas planícies do seu corpo, ela levou-se pelas aragens refrescantes do seu coração.<br />Era a terra precisada de ar numa aliança perfeita de elementos, numa comunhão constante de impressões.<br />Conheceram-se ofegantes e não mais os seus corpos se largaram.<br />Ela parecia ter a garganta presa com o ar. Ele sentia pisar a terra mais leve e os seus passos firmes.<br />Não era da natureza do ar fazer-se prisioneiro nas entranhas rudes e imutáveis da terra.<br />Não seria a Terra a prender a voracidade dessa vida de ar que, inevitavelmente, seguiu o seu rumo.<br />Levou com ele minúsculas partículas de pó, memórias infinitas do seu encontro com a terra.<br />E nunca mais se defrontaram!<br />A ela, nunca mais a viram solta nas planuras e o corpo endureceu formando-se acre e castanho. Por vezes, irrompe em tempestade. Ainda solta todo o ar contido na garganta em furacões.<br />O coração fez-se de fogo, consumindo-a aflito, em arrepios constantes.<br />No peito, um enorme vazio cor de sangue. É a alma da terra que a água não alcança. O núcleo da vida em permanente crepitar. Deito-me nela e oiço-a palpitar…ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-60310910257397358512009-01-28T19:29:00.001+00:002009-01-28T19:50:30.213+00:00EstradaAbriu a porta e os olhos apertaram. Há muito que galgavam navegantes em busca de um destino.<br />De todas as vezes em que o rumo lhe assomara acabara sempre assim…num qualquer porto onde poisar.<br />Porque insistia nessas rotas que maltratam? Quantas mágoas deixara nesses portos hoje ausentes?<br />Entrou…<br />Despediu-se do caminho. Vagueara invisível nesses trilhos que secaram o seu ser.<br />Não queria aquele nada de solidão à beira estrada.<br />Esperou…<br />Os olhos fecharam de saudade nas lembranças dos sonhos que desbotam deprimentes.<br />Ali, onde a porta se descobre dentro do seu ser, o tempo não aperta, mas suporta.<br />Sentou-se...<br />Desfaz-se da memória que não tem mais que antever.<br />Lá fora, onde o rumo se agrilhoa entre tormentas e correntes, ainda há quem persista no vazio e rume à estrada.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-24315079822601278192008-11-25T15:52:00.003+00:002008-11-26T19:12:16.250+00:00Eu queria falar-te do pó. Desse que se lança dianteiro nos meus olhos e me apaga.<br />Milhões de crepúsculos sombrios que se abatem e se esgotam.<br />Andar com sede nos lábios e ânsias no querer. Ter um peso que transforma os meus passos neste chão.<br />Mas em vivência dormente, vou seguindo fechada no silêncio. Com palavras certas amordaço o que não digo em mim.<br />Eu queria falar-te, e não quero. Na conspiração do silêncio que me assiste, espero.<br />Há muito que o trajecto me deixou entre grupos e ensejos.<br />E não olho para trás!<br />Se na viagem que encetei o abismo se anunciar, espero que a vertigem não me cegue e que, no salto, me veja lá do alto: a soma de todas as coisas, a presença de todos os dias, apenas mais um eco de um vazio visceral.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-60750753087933767322008-04-22T21:44:00.002+01:002008-04-22T21:51:19.847+01:00O Louco<em>“Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:<br /></em><br /><em>Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!” </em><br /><em></em><br /><em>Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim. </em><br /><em></em><br /><em>E quando cheguei à praça do mercado, um rapaz no cimo do telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez a minha face nua. Pela primeira vez, o sol beijava a minha face nua.</em><br /><em></em><br /><em>E a minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais as minhas máscaras. </em><br /><em></em><br /><em>E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram as minhas máscaras!”</em><br /><em></em><br /><em>Assim tornei-me louco.<br /></em><br /><em>E encontrei tanta liberdade como segurança na minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.”</em><br /><em></em><br /><em></em><br />Khalil GibranANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-67470937298073467462007-12-12T13:05:00.001+00:002008-08-30T20:55:35.221+01:00DestinoSentou-se. As portas fecharam-se na partida, tal como todas as outras, em todos os diferentes portos.<br />Nela, apenas mais um abrigo, nada mais que excertos do caminho.<br />Levantou-se, um passo, depois outro e as lágrimas corriam provisórias num laço infinitesimal que a prendia neles.<br />O coração marcava-lhe o ritmo num compasso.<br />Mais um passo, e um novo porto. <br />O corpo revoltava-se com a indignação do cansaço. <br />Esperou, e cruzou os braços.<br />O cheiro acre da terra inundou-lhe os sentidos recordando-lhe de onde vinha.<br />O desenho das pegadas determinava a decisão.<br />No olhar já um novo porto longínquo onde demorar-se e também outro, rumo a casa.ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-88738143447046323022007-11-07T18:38:00.000+00:002007-11-07T18:55:19.044+00:00The Queen and the SoldierThe soldier came knocking upon the queen's door. He said, "I am not fighting for you any more"!The queen knew she'd seen his face someplace before, and slowly she let him inside.<br />He said, "I've watched your palace up here on the hill, and I've wondered who's the woman for whom we all kill. But I am leaving tomorrow and you can do what you will, only first i am asking you "why?"<br /><br />Down in the long narrow hall he was led into her rooms with her tapestries red. And she never once took the crown from her head, she asked him there to sit down...<br />He said, "I see you now, and you are so very young, but i've seen more battles lost than I have battles won. And I've got this intuition, says it's all for your fun. And now will you tell me why?<br /><br />The young queen, she fixed him with an arrogant eye. She said, "You won't understand, and you may as well not try". But her face was a child's, and he thought she would cry. But she closed herself up like a fan.<br />And she said, "I've swallowed a secret burning thread, it cuts me inside, and often I've bled". He laid his hand then on top of her head, and he bowed her down to the ground.<br /><br />"Tell me how hungry are you? How weak you must feel....as you are living here alone, and you are never revealed. But I won't march again on your battlefield."And he took her to the window to see.<br />And the sun, it was gold, though the sky, it was gray, and she wanted more than she ever could say. But she knew how it frightened her, and she turned away, and would not look at his face again.<br /><br />And he said, "I want to live as an honest man. To get all I deserve and to give all I can. And to love a young woman who I don't understand, your highness, your ways are very strange."<br />But the crown, it had fallen, and she thought she would break, and she stood there, ashamed of the way her heart ached. She took him to the doorstep and she asked him to wait, she would only be a moment inside...<br /><br />Out in the distance her order was heard. And the soldier was killed, still waiting for her word. And while the queen went on strangeling in the solitude she preferred, the battle continued on...<br /><br /><div align="center">***</div><div align="left">Hoje as palavras traem-me...</div><div align="center"></div><div align="left">Uma grande música de uma grande senhora!</div>ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-88292245212862314962007-06-18T13:46:00.000+01:002007-06-18T15:29:06.600+01:00O menino SolEla teima em sentar-se à janela, estanque, inerte, indiferente à espera de agarrar os raios que lhe fogem pelos dedos. Não lhe ocorre nada, naquelas horas que passam vazias, a alma afugentada, varrida de vontade.<br />Tinha sido naquele sem esperar que lhe tombou do céu um raio, como um clarão. Olhou aquela centelha miúda que lhe acendia o ânimo e chamou-lhe Sol. Vinha do firmamento, transportava um novo raiar de espírito que lhe acendera a força que brotava da alma.<br />Há quem passe por aquela casa no meio da rua e a veja lá, tão demente como excessiva, na sua luta com o sol. Acolhera-o com a contemplação com que se admira o novo. Os cabelos loiros de claridade, iluminados de esplendor.<br />Há quem diga que desde que lhe caiu do colo e fugiu dos seus braços canta baixinho, para o ver voltar. Os olhos de mel enchiam-lhe o mundo num abraço terno. O cosmos cabia todo no seu riso, os lábios dois gomos frescos de aragem de vida. E é na lembrança dessas horas que o coração desfibrilha e ganha vida.<br />A ele, vê-o passar em muitos dos olhares que lhe surgem pelos trilhos da janela. Há neles aquela centelha de lume que ilumina e resplandece. E Ela, para não os esquecer, arruma-os de mansinho nas reminiscências daquele ser e sorri.<br />Um novo impulso toma-a pelas mãos e acompanha-a nas sendas a percorrer.<br />Não sei se foi a luz que a cegou quando tombou do céu como um clarão, não sei se foi na contemplação daqueles raios que se fez louca na sombra das manhãs.<br />Sei que ainda a oiço cantar, como quem chora, chamando pelos raios baixinho, para não os assustar.<br />É a memória a prolongar-se pelos ritos, a deixar-se ficar indolente no sopro de uma mente que ainda corre para agarrar os sonhos que lhe escapam borda fora…ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-13175575.post-16547444543041889412007-05-01T20:22:00.000+01:002007-05-03T13:36:56.687+01:00SaturnoTu não foste tempo perdido no lento passar dos dias.<br />Foi ténue, o laço vago que nos unia no ir do tempo.<br />A oposição perfeita do que somos distancia-nos e separa-nos.<br />Em nós, apenas o abismo irreversível do conjunto das nossas diferenças.<br />Tu não foste o negro pó da lembrança em cada regresso das manhãs.<br />O menor resquício da tua presença em mim inocenta-se ligeiro nos raios que me aconchegam. Foi e seria na diferença intencional do círculo que formamos que o Universo se faria tacto e faro e vida em nós.<br />Mas o acto é apenas um rasto dos passos que demos, dos trechos que fomos.<br />Tu não és derrota ou rumo em mim. Neste jogo de sentidos não te dou a vitória nem espero um fim. Pode ser que um dia os desígnios se conciliem e me tragam outro ensejo. No doce conformar do Universo, foste…serás…és: horas, tempo, vago, destino… Danço nos teus anéis, alheia aos teus aferros…<br />No cruzar da tua órbita tens de gelo os teus cristais.<br />Nasceste Titã de foice com que mutilas e decepas; mas é na impermanência constante dos teus jeitos que és raiz: Céu e Terra nascem em ti…ANNUNCIATAhttp://www.blogger.com/profile/03124388223695897437noreply@blogger.com1