terça-feira, junho 07, 2005

Previsivel

Há, no fundo de mim, um caminho que percorro, devagar, todos os dias. Desde que o sol se levanta até quando se põe, caminho pelos seus trilhos com um sem vontade feito de desgostos, de desilusões.
Cai a noite, deito-me à espera que os sonhos me tragam o conforto que procuro. Mas a noite é cruel e os sonhos não vêm...se ao menos eu soubesse como me fazer feliz.
Mas espero sempre que os outros o façam, esses outros que me condenam a ser eu e me fazem assim.
Espero que esses outros apareçam e que, por entre a noite, me adormeçam,ali no escuro e no fundo de mim.
Deixo-me cair e faço-me criança que precisa de consolo...mas só finjo...porque a criança em mim já morreu, antes mesmo de nascer.
Será que não dá para ver? Eu sou um fantasma do que devia ser...
E percorro este caminho invisivel, insensivel...irreal...
E o que fizeram, o que fiz de mim?
Aqui, no suplicio mortal da espera...dou por mim a soluçar...a tentar ser o que não era...o que não é para ser.
E o caminho é tão grande e tão seco. Queria encontrar em algo, em alguém a frescura transparente de um rio...para me deixar levar..e talvez construir um barco,uma canoa...um navio
e deixar-me levar.
E é previsivel que o sol se ponha mais uma noite sem que eu erga os meus olhos para o céu e o consiga ver...há muito que os olhos me atormentam o viver...doi tanto ver o que não é para conhecer. E percorro o meu caminho sem forças para lutar.
Mas no meu caminho longo, seco e isolado, é previsivel que a noite me tolde os sentidos e que me devolva a paz, sombria que não quero ter.
Luto contigo, fria paz, vai-te embora..deixa-me entender. Dá-me a guerra das horas, dá-me arrepios ao ser..mas não me deixes nesta quietude, neste inércia que me mutila e atrofia.
Aqui, no suplicio mortal da espera...dou por mim a soluçar...e todos vêem as minhas lágrimas cair...quero fugir...oh Deus tira-me daqui, faz-me parar!
Não tenho forças para lutar.E o caminho é tão grande e seco...onde está a frescura do rio?
Olho-me ao espelho...e é previsivel que pergunte: o que fizeram, o que fiz de mim?
E neste meu caminho, do nascer e do por do sol, percorro o seu trilho, invisivel, insensivel...irreal.
Doi tanto ver o que não é para ver.
As horas censuram-me as rotas a percorrer, limpo as lágrimas...
Aqui no suplicio mortal da espera...é tarde demais para soluçar.