quarta-feira, outubro 19, 2005

Sol

Sou filha de um raio de sol que pousou um dia no teu olhar, desci quando a noite caia na tarde como uma folha ao vento.
Cai em ti, leve, dormente, um sopro do coração.
E eu era nada, não tinha, não tenho nada, apenas os teus braços, o meu porto, ao qual ainda regresso todos os dias, para me proteger.
E quando o sol se põe,apagando-se, no horizonte, falas com um sorriso…o teu sorriso, o maior sorriso, o primeiro que vi, o mais belo que algum dia hei-de ver.
Ouço-te, atenta, na minha eterna sabedoria infantil, e tu, na tua infinita ternura do coração, dizes “és um Anjo que escapou do Céu enquanto nossa Senhora limpava o chão…”
E é nessas alturas que algo em mim deixa de ser…
Fecho os olhos…estendo o meu corpo de linho…devagarinho…deixo os olhos fechar. Amanhã não estou aqui. Não há dia maior que não dê lugar ao luar…e a noite não é minha, tenho que voltar.
Não peço nada, porque nada sei querer.
Quero apenas que te lembres de mim, e que uma lágrima caia dos teus olhos quando me despedir, e que dessa lágrima nasça uma flor, como aquela que a chuva rega, quando não faz sol.
E nos teus olhos, os mais belos, os primeiros que vi, quero apenas ver o brilho que me deste na minha breve viagem pelo sol…e há um raio que chama por mim.
E se eles se mantiverem abertos e se o sol neles raiar, pode ser que venha a descer novamente, para te visitar, ao fim da tarde, como uma folha ao ar…com o mesmo sopro no coração.
Sou filha de uma raio de sol que me levou até ti e ao teu olhar, que te trouxe até mim.
Vivo naquela estrela que olhas, ao luar, enquanto viajo pelas galáxias a descobrir.
E se a voz da noite te responder…pode ser que me descubras, dentro de ti e do teu olhar, e pode ser que me oiças responder, bem dentro de nós:
Não peço nada, porque nada sei querer…
Quero apenas que te lembres de mim…
Não me vês…onde estás?
Não te deixei… regressarei aos teus braços para me proteger.
Sorris….não há noite tão longa que não veja o sol chegar…