terça-feira, maio 01, 2007

Saturno

Tu não foste tempo perdido no lento passar dos dias.
Foi ténue, o laço vago que nos unia no ir do tempo.
A oposição perfeita do que somos distancia-nos e separa-nos.
Em nós, apenas o abismo irreversível do conjunto das nossas diferenças.
Tu não foste o negro pó da lembrança em cada regresso das manhãs.
O menor resquício da tua presença em mim inocenta-se ligeiro nos raios que me aconchegam. Foi e seria na diferença intencional do círculo que formamos que o Universo se faria tacto e faro e vida em nós.
Mas o acto é apenas um rasto dos passos que demos, dos trechos que fomos.
Tu não és derrota ou rumo em mim. Neste jogo de sentidos não te dou a vitória nem espero um fim. Pode ser que um dia os desígnios se conciliem e me tragam outro ensejo. No doce conformar do Universo, foste…serás…és: horas, tempo, vago, destino… Danço nos teus anéis, alheia aos teus aferros…
No cruzar da tua órbita tens de gelo os teus cristais.
Nasceste Titã de foice com que mutilas e decepas; mas é na impermanência constante dos teus jeitos que és raiz: Céu e Terra nascem em ti…