domingo, julho 24, 2005

Pensamentos...

Sabes…há dias em que toda a força que possuo me escapa por entre os dedos.
Os músculos dilatam-se, a vida sai-me, como num sopro, em direcção ao vento.
Sinto-me planar. Paro a cada batida do coração. Deixo-me cair num sono profundo que embala, mas não me deixo adormecer. Não sem tu chegares, não sem me explicares por que te atrasas nas horas, porque esqueces o tempo que te molda, porque te ris da minha raiva e me desenhas tão longe do que sou?
E onde estás enquanto te perdes, tão longe de tudo e de nós? Não sabes que te tracei a rota antes mesmo de poderes pensar em percorre-la, antes mesmo de a poderes ver?
Sinto-te percorrer-me as entranhas, estranho-te. Porquê que hesitas? Já não conheces o caminho…e eu…não conheço mais o teu cheiro. E tudo o que queria, evaporou-se nos primeiros raios de sol.
Deixo esvair o meu último sopro de memória, leve, lento, certeiro, o tempo arranca-me do ventre as criações. Sabes, o sono é impiedoso e pesa-me nos olhos, tolhe-me a alma, leva-me a vontade.
Há momentos em que congelo com os pensamentos, o peso verga-me as costas cansadas e a caminhada torna-se longa e dolorosa. Não sei porque vim ter contigo a este caminho já traçado, já o conheço, já o conheces, e perdemo-nos mesmo assim... para nós não há saída…
E não quero os pensamentos! Não preciso deles para me vestir, quem disse que nos amparavam?
Sabes…há dias em que me sinto menina, no fundo de um sonho, olho-me ao espelho, reconheço os traços, repudio a figura. Os mesmos lábios vermelhos que costumavam gargalhar estão agora pálidos, mortos. Os mesmos olhos escuros, dois faróis de vida, embaciam com a memória. Há uma sombra cruel e corrosiva que me leva a vida.
E onde está a gaivota de ti?
Guardada no fundo da gaiola onde vivo, onde sou rainha do teu trono de mar.
Sabes…é a memória, sempre a memória que me faz escrava do meu ser.
E é sempre este sono que me leva para o desconhecido de todas as vezes que te quero ver…e não te vejo chegar…e tu…não me vês adormecer…não sabes de respiro fundo com o cansaço, não sabes se me aninho, indefesa, nos sonhos que me aconchegam…e eu não sei se sorris quando me vês ali, só, inerte…
E agora estou cansada, deito-me, vejo os pensamentos que se sentam ao meu lado, companheiros fiéis das horas longas. Ouço os teus passos…sinto-te, apressado, ofegante, “dorme bem”, escuto.
E de repente, no meio do sono, quero acordar.
Vem… deita-te aqui comigo…sabes…a cumplicidade não nasce num surgir.