Era fácil.
Deixava-se arrastar
em lentos passos pesarosos.
Toda a segurança morava ali,
naquele pequeno inferno sedutor.
E soluçava errante, cabisbaixa,
submersa, numa dança.
Dava um passo, depois outro.
Tanto tempo passara quieta,
contemplando a vida que passava
pela estrada.
Já se esquecera, do impulso,
que a impelia a caminhar.
Era tão fácil
curvar os sonhos num soluço,
parar no curso
e passear o pesar,
alastrado, vagaroso, com cuidado,
tacteando, um por um,
os seus recantos
embebendo-os, complacente
numa lenta necrosão.
Era simples.
Num suspiro, dar-se por vencida,
num murmúrio, entregar a vida,
a um doce desespero.
Apenas um corpo,
a sós, com a sua dor, que o corroía,
cada vez mais, dia pós dia, com esmero.
Era tão seu esse mundo,
onde, sozinha, se encolhia,
para que coubesse toda nele,
serena, indolente.
Que agora, percebia,
pisava os estilhaços
de si mesma, amputados, pelo chão.
Era o seu corpo que morria,
sem se debater...
Sorriu, ao sentir-se morrer
Outra metade nascia
uma que não lhe pertencia,
que não lhe cabia no mundo
e que não ía deixar perder...
terça-feira, julho 29, 2014
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1 comentário:
So um momento para dizer que toda a tua poesia faz sentido no meu mundo...tão comovente que me vejo ao espelho nessa tua angustia...continuarei a beber das tuas palavras pois delas faço matar a minha sede!obrigada.
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