terça-feira, julho 29, 2014

Metade

Era fácil.

Deixava-se arrastar
em lentos  passos pesarosos.
Toda a segurança morava  ali,
naquele pequeno inferno sedutor.
E soluçava errante, cabisbaixa,
submersa, numa dança.
Dava um passo, depois outro.
Tanto tempo passara quieta,
contemplando a vida que passava
pela estrada.
Já se esquecera, do impulso,
que a impelia a caminhar.

Era tão fácil

curvar os sonhos num soluço,
parar no curso
e passear o pesar,
alastrado, vagaroso, com cuidado,
tacteando, um por um,
os  seus recantos
embebendo-os, complacente
numa lenta necrosão.

Era simples.

Num suspiro, dar-se por vencida,
num murmúrio, entregar a vida,
a um doce desespero.
Apenas um  corpo,
a sós, com a sua dor, que o corroía,
cada vez mais, dia pós dia, com esmero.

Era tão seu esse mundo,
onde, sozinha, se encolhia,
para que coubesse toda nele,
serena, indolente.
Que agora, percebia,
pisava os estilhaços
de si mesma, amputados, pelo chão.

Era o seu corpo que morria,
sem se debater...
Sorriu, ao sentir-se morrer
Outra metade nascia
uma que não lhe pertencia,
que não lhe cabia no mundo
e que não ía deixar perder...

segunda-feira, julho 28, 2014

A ti..

Tudo foi dito, meu amor, nesse compasso.
E no desconcertante, exílio do silêncio,
ergui um espaço escasso, onde repouso,
confessada, e em suspenso.

No encontro dos meus pés com o caminho sempre me debato,
rebate etéreo e febril, com o teu tacto.
E é ausência de mim isto que sinto, no contacto
sem dizer.

Queria tanto que me arrependesses.
Que me trouxesses tempestades aos olhos,
e devolvesses os sismos ao meu chão.
E pudesse o amor revirar as entranhas.
Queria arrancar-te a vida num só beijo e
devolver-ta, maculada nos meus fogos e paixões.
Guardo em mim uma vida que transborda,
leal, nos meus lamentos.
E queria que me arrancasses os tormentos,
dessa vida, que em silêncio te ofereci.
E pudesse o amor amar mais, na despedida
amar-te-ia mais uma vida, um pouco mais
só para te ver partir...

A ti

Que agora foges do silêncio que te frustra,
Que me prometeste dar à vida infernos e vulcões.
A mim, que nada mais criei que as ilusões
Arromba-me a porta, derruba-me os muros
devolve-me os vulcões

Ouves-me?

Faz da minha quietude um vício e a tua rota
e quando, em rendição te vir, cansado, regressar,
nos passos, que em contramão já percorreste,
Peço-te
Vamos dançar o tango. Esquecer a luta,
que inevitavelmente, perscruta
todas as danças que a vida tem...