Eram coisas. Viviam ali, no sitio das coisas velhas, encavalitadas, umas segurando as outras.
Começaram poucas, pousadas em mão. Até que uma a uma, coisa a coisa, foram trepando até ao tecto em pirâmide. A mão já não as alcançava e saltavam ginastas sem trapézio atiradas para o topo. E pareciam tocar o céu quando arremessadas para o alto. Aí, nada lhes restava senão o sono de quem não dorme, onde permaneciam imóveis, o pó a beijar-lhes o corpo, a toca-las, cobrindo-lhes o abandono, sufocando-lhes a vida.
A menina subia ao sótão como refúgio e sentava-se no chão. Chamava cada coisa pelo nome, de cor. A sua mão pequena tentando alcançá-las de longe, em esforços. Os dedos da menina nunca chegavam a tocar-lhes, mas como truque do destino, a leve brisa que se levantava desses voos parecia acariciá-las e as coisas estremeciam.
As horas passaram ligeiras e a menina cresceu. Ainda chama por cada coisa, uma a uma pelo nome.
As coisas permanecem intocáveis, intactas, esquecidas. O pó apenas uma outra forma de tempo acumulado em camadas, trazido pelos dias. Às vezes passo-lhes os dedos e deixo-as respirar.
quarta-feira, fevereiro 07, 2007
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
Pela Lua
Onde estiveste? Ouvi a tua voz de criança perguntar-me do alto dos teus 5 anos, curiosa, ávida de tudo, com sede de saber.
Foste longe? Indagavas... o longe para ti apenas uma distância desconhecida entre o aqui e o distante.
Estás a ver, Inês? Foi ali que estive, até agora, quando me chamaste.
Na lua? O teu dedinho agitado apontava para aquela bola prateada cintilante no céu, os teus olhos verdes a crescer de perplexidade, inundados de desapontamento a espalhar-se na alma.
Para lá não quero ir, é escuro e não posso brincar. Disseste sorrateira. Os teus bracinhos pequenos, exploradores de histórias, viajantes de emoções, saltaram-me ao pescoço, cheios de ânsias e de esperanças. Para ti a lua, longínqua é difícil de alcançar e pode esperar.
É bom estares aqui agora... murmuraste antes de adormecer.
Peguei na tua mão, pequena, simples, curiosa, e sussurrei como se cantasse: espero que o teu mar apague da areia os passos que percorri na minha viagem pela lua, também a mim a lua já não seduz.
Foste longe? Indagavas... o longe para ti apenas uma distância desconhecida entre o aqui e o distante.
Estás a ver, Inês? Foi ali que estive, até agora, quando me chamaste.
Na lua? O teu dedinho agitado apontava para aquela bola prateada cintilante no céu, os teus olhos verdes a crescer de perplexidade, inundados de desapontamento a espalhar-se na alma.
Para lá não quero ir, é escuro e não posso brincar. Disseste sorrateira. Os teus bracinhos pequenos, exploradores de histórias, viajantes de emoções, saltaram-me ao pescoço, cheios de ânsias e de esperanças. Para ti a lua, longínqua é difícil de alcançar e pode esperar.
É bom estares aqui agora... murmuraste antes de adormecer.
Peguei na tua mão, pequena, simples, curiosa, e sussurrei como se cantasse: espero que o teu mar apague da areia os passos que percorri na minha viagem pela lua, também a mim a lua já não seduz.
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