Brotam-te cascatas que te rasgam os olhos, dois lagos de cera, galgando a montanha do teu rosto. Escorre-te a água que o teu coração mandou, criando os rios da tua face desenhando-se como trechos de uma história, tatuando-se como traços de uma vida, como tinta, mágica, invisível, imortal.
E nas lágrimas que lanças, transparentes, reluzentes, não há dor, não há tormento, apenas um brotar de desamor, fraco, pobre, vazio.
Riem-se-te os lábios desabrochando, iluminando o espaço que pisas com os teus passos certos, firmes, radicais.
E nos risos que te saem, construídos, não há alento, nem calor.
Sinto-te o medo, tacteio-te os horrores. Todos te prendem, todos te amarram. E fechado em ti e nos teus temores, cortas os desafios, que caem por terra retalhados, humilhados, jogando-se em pedaços pelos pisos onde passas.
E enquanto caminhas, cabisbaixo e em penitência, vais deixando, desolados, os recantos do teu ser.
Pode ser que um dia voltes a todos os portos de onde partiste, pode ser que voltes a sorrir sem um contrato, e eu, enquanto espero, ao seguir-te pelos caminhos que traças, vou recolhendo todos os bocados que apanho. Não vás tu ter frio e precisar.
Estou lá, invisível, misturada no ar, na água que bebes. E assim, dissolvida no teu coração pode ser que me espantes e me mandes para fora de ti.
E não ficarei triste nem desamparada, esperarei apenas que me abras os braços e que me acenes, na despedida. Não espero, não quero, nada mais.
E se o sorriso que deres for puro, saberei que te curei as feridas, que te soltei das amarras e te fiz mais tu. E ali, terás por minha lembrança aqueles retalhos, que pacientemente juntei, no trabalho de uma vida.
E assim, de fronte erguida, lavas o teu rosto de cera, secando-o à luz do sol, clara, natural.
E ao abrires os olhos para a vida e veres o caminho que fizeste, eu verei que, finalmente, te ensinei a andar.
Artificial, a última lágrima artificial que deitaste antes de me instalar no teu coração, chega-te agora à memória, há muito que a baniste para longe com um sopro, o último sopro de solidão.
Artificial, bani-te para longe, vida oca!
E ao ouvir estas palavras, chego ao fim, perceberei… agora estás acompanhado.
Eu sou fada e no teu coração que fiz de casa, plantei-te no canteiro a flor do AMOR.
Vou-me embora…também tenho um canteiro para cuidar…
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