Sou filha de um raio de sol que pousou um dia no teu olhar, desci quando a noite caia na tarde como uma folha ao vento.
Cai em ti, leve, dormente, um sopro do coração.
E eu era nada, não tinha, não tenho nada, apenas os teus braços, o meu porto, ao qual ainda regresso todos os dias, para me proteger.
E quando o sol se põe,apagando-se, no horizonte, falas com um sorriso…o teu sorriso, o maior sorriso, o primeiro que vi, o mais belo que algum dia hei-de ver.
Ouço-te, atenta, na minha eterna sabedoria infantil, e tu, na tua infinita ternura do coração, dizes “és um Anjo que escapou do Céu enquanto nossa Senhora limpava o chão…”
E é nessas alturas que algo em mim deixa de ser…
Fecho os olhos…estendo o meu corpo de linho…devagarinho…deixo os olhos fechar. Amanhã não estou aqui. Não há dia maior que não dê lugar ao luar…e a noite não é minha, tenho que voltar.
Não peço nada, porque nada sei querer.
Quero apenas que te lembres de mim, e que uma lágrima caia dos teus olhos quando me despedir, e que dessa lágrima nasça uma flor, como aquela que a chuva rega, quando não faz sol.
E nos teus olhos, os mais belos, os primeiros que vi, quero apenas ver o brilho que me deste na minha breve viagem pelo sol…e há um raio que chama por mim.
E se eles se mantiverem abertos e se o sol neles raiar, pode ser que venha a descer novamente, para te visitar, ao fim da tarde, como uma folha ao ar…com o mesmo sopro no coração.
Sou filha de uma raio de sol que me levou até ti e ao teu olhar, que te trouxe até mim.
Vivo naquela estrela que olhas, ao luar, enquanto viajo pelas galáxias a descobrir.
E se a voz da noite te responder…pode ser que me descubras, dentro de ti e do teu olhar, e pode ser que me oiças responder, bem dentro de nós:
Não peço nada, porque nada sei querer…
Quero apenas que te lembres de mim…
Não me vês…onde estás?
Não te deixei… regressarei aos teus braços para me proteger.
Sorris….não há noite tão longa que não veja o sol chegar…
quarta-feira, outubro 19, 2005
Sol
quinta-feira, setembro 22, 2005
Artificial
E nas lágrimas que lanças, transparentes, reluzentes, não há dor, não há tormento, apenas um brotar de desamor, fraco, pobre, vazio.
Riem-se-te os lábios desabrochando, iluminando o espaço que pisas com os teus passos certos, firmes, radicais.
E nos risos que te saem, construídos, não há alento, nem calor.
Sinto-te o medo, tacteio-te os horrores. Todos te prendem, todos te amarram. E fechado em ti e nos teus temores, cortas os desafios, que caem por terra retalhados, humilhados, jogando-se em pedaços pelos pisos onde passas.
E enquanto caminhas, cabisbaixo e em penitência, vais deixando, desolados, os recantos do teu ser.
Pode ser que um dia voltes a todos os portos de onde partiste, pode ser que voltes a sorrir sem um contrato, e eu, enquanto espero, ao seguir-te pelos caminhos que traças, vou recolhendo todos os bocados que apanho. Não vás tu ter frio e precisar.
Estou lá, invisível, misturada no ar, na água que bebes. E assim, dissolvida no teu coração pode ser que me espantes e me mandes para fora de ti.
E não ficarei triste nem desamparada, esperarei apenas que me abras os braços e que me acenes, na despedida. Não espero, não quero, nada mais.
E se o sorriso que deres for puro, saberei que te curei as feridas, que te soltei das amarras e te fiz mais tu. E ali, terás por minha lembrança aqueles retalhos, que pacientemente juntei, no trabalho de uma vida.
E assim, de fronte erguida, lavas o teu rosto de cera, secando-o à luz do sol, clara, natural.
E ao abrires os olhos para a vida e veres o caminho que fizeste, eu verei que, finalmente, te ensinei a andar.
Artificial, a última lágrima artificial que deitaste antes de me instalar no teu coração, chega-te agora à memória, há muito que a baniste para longe com um sopro, o último sopro de solidão.
Artificial, bani-te para longe, vida oca!
E ao ouvir estas palavras, chego ao fim, perceberei… agora estás acompanhado.
Eu sou fada e no teu coração que fiz de casa, plantei-te no canteiro a flor do AMOR.
Vou-me embora…também tenho um canteiro para cuidar…
sexta-feira, setembro 16, 2005
Sonho
E foi assim...apenas um minuto.
Olhei o mar que se encontrava na areia, lânguido, suave, ameno, puro.
Ali, em frente ao mar, tudo parecia fazer sentido. Sim,disse, como quando se mente a um menino, muito baixinho, não vão os anjos descobrir.
Nas ondas do mar voltavam todos os meus dias, naquelas águas via a minha vida passar como num filme. Mas não me doía, não remoía dores, não buscava sorrisos, apenas via, ali, sozinha, sem sentir.
E sabia que aquele segundo iria acabar por ter um fim, tal como o pássaro voa e abre as asas ao horizonte, tal como o sol nasce e adormece, num outro monte, tal como o rio corre, para morrer de encontro a este mar.
Senti o seu cheiro, o seu olhar. Senti-o chegar, senti o peito a bater. Mas não era o sufoco da alma a mirrar, lentamente em mim, era a alegria de soltar os demónios que viviam acorrentados ao meu nome, ao meu modo de sofrer, essas sombras que me prendiam ao manicómio.
A água falta no deserto e a chuva inunda as criações, a vida é curta e a viagem uma história, os dias são longos e criam-me a memória.
E este mar trespassa-me e engrandece-me. Por um minuto, e nada mais, soube que não tinha medo, mesmo sem falar, disse todas as coisas, percorri todas as palavras, naquele minuto em que em mim, um mar foi Rei.
Mas esse mar veio de longe e como veio, foi, para encontrar um outro mar, nesse minuto precioso que marcou a minha ausência. E, tal como o fogo faz parte da terra e nasce de vulcões, levei esse mar na pele, no corpo, no amar. Em mim ficaram sempre gravados o seu jeito, o seu olhar. Conheço-lhe as acções, li-lhe as pulsações e encontrei-me num azul cristalino, ali onde o mar se deita na areia, onde doces e serenas as ondas sussurram murmúrios divinos, baixinho, não vá o céu ouvir e a história acabar, nesse minuto em que o mesmo sol que se levanta no infinito, desce veloz, em direcção ao imenso mar. Assim, como num sonho, simples, sem sentido, forasteiro, irreal…
Sim, disse em sussurros, vai que eu aceito! Sigo o meu caminho…não me esqueci de nada, não minto, disfarço.
domingo, julho 24, 2005
Pensamentos...
Sabes…há dias em que toda a força que possuo me escapa por entre os dedos.
Os músculos dilatam-se, a vida sai-me, como num sopro, em direcção ao vento.
Sinto-me planar. Paro a cada batida do coração. Deixo-me cair num sono profundo que embala, mas não me deixo adormecer. Não sem tu chegares, não sem me explicares por que te atrasas nas horas, porque esqueces o tempo que te molda, porque te ris da minha raiva e me desenhas tão longe do que sou?
E onde estás enquanto te perdes, tão longe de tudo e de nós? Não sabes que te tracei a rota antes mesmo de poderes pensar em percorre-la, antes mesmo de a poderes ver?
Sinto-te percorrer-me as entranhas, estranho-te. Porquê que hesitas? Já não conheces o caminho…e eu…não conheço mais o teu cheiro. E tudo o que queria, evaporou-se nos primeiros raios de sol.
Deixo esvair o meu último sopro de memória, leve, lento, certeiro, o tempo arranca-me do ventre as criações. Sabes, o sono é impiedoso e pesa-me nos olhos, tolhe-me a alma, leva-me a vontade.
Há momentos em que congelo com os pensamentos, o peso verga-me as costas cansadas e a caminhada torna-se longa e dolorosa. Não sei porque vim ter contigo a este caminho já traçado, já o conheço, já o conheces, e perdemo-nos mesmo assim... para nós não há saída…
E não quero os pensamentos! Não preciso deles para me vestir, quem disse que nos amparavam?
Sabes…há dias em que me sinto menina, no fundo de um sonho, olho-me ao espelho, reconheço os traços, repudio a figura. Os mesmos lábios vermelhos que costumavam gargalhar estão agora pálidos, mortos. Os mesmos olhos escuros, dois faróis de vida, embaciam com a memória. Há uma sombra cruel e corrosiva que me leva a vida.
E onde está a gaivota de ti?
Guardada no fundo da gaiola onde vivo, onde sou rainha do teu trono de mar.
Sabes…é a memória, sempre a memória que me faz escrava do meu ser.
E é sempre este sono que me leva para o desconhecido de todas as vezes que te quero ver…e não te vejo chegar…e tu…não me vês adormecer…não sabes de respiro fundo com o cansaço, não sabes se me aninho, indefesa, nos sonhos que me aconchegam…e eu não sei se sorris quando me vês ali, só, inerte…
E agora estou cansada, deito-me, vejo os pensamentos que se sentam ao meu lado, companheiros fiéis das horas longas. Ouço os teus passos…sinto-te, apressado, ofegante, “dorme bem”, escuto.
E de repente, no meio do sono, quero acordar.
Vem… deita-te aqui comigo…sabes…a cumplicidade não nasce num surgir.
terça-feira, junho 07, 2005
Previsivel
Cai a noite, deito-me à espera que os sonhos me tragam o conforto que procuro. Mas a noite é cruel e os sonhos não vêm...se ao menos eu soubesse como me fazer feliz.
Mas espero sempre que os outros o façam, esses outros que me condenam a ser eu e me fazem assim.
Espero que esses outros apareçam e que, por entre a noite, me adormeçam,ali no escuro e no fundo de mim.
Deixo-me cair e faço-me criança que precisa de consolo...mas só finjo...porque a criança em mim já morreu, antes mesmo de nascer.
Será que não dá para ver? Eu sou um fantasma do que devia ser...
E percorro este caminho invisivel, insensivel...irreal...
E o que fizeram, o que fiz de mim?
Aqui, no suplicio mortal da espera...dou por mim a soluçar...a tentar ser o que não era...o que não é para ser.
E o caminho é tão grande e tão seco. Queria encontrar em algo, em alguém a frescura transparente de um rio...para me deixar levar..e talvez construir um barco,uma canoa...um navio
e deixar-me levar.
E é previsivel que o sol se ponha mais uma noite sem que eu erga os meus olhos para o céu e o consiga ver...há muito que os olhos me atormentam o viver...doi tanto ver o que não é para conhecer. E percorro o meu caminho sem forças para lutar.
Mas no meu caminho longo, seco e isolado, é previsivel que a noite me tolde os sentidos e que me devolva a paz, sombria que não quero ter.
Luto contigo, fria paz, vai-te embora..deixa-me entender. Dá-me a guerra das horas, dá-me arrepios ao ser..mas não me deixes nesta quietude, neste inércia que me mutila e atrofia.
Aqui, no suplicio mortal da espera...dou por mim a soluçar...e todos vêem as minhas lágrimas cair...quero fugir...oh Deus tira-me daqui, faz-me parar!
Não tenho forças para lutar.E o caminho é tão grande e seco...onde está a frescura do rio?
Olho-me ao espelho...e é previsivel que pergunte: o que fizeram, o que fiz de mim?
E neste meu caminho, do nascer e do por do sol, percorro o seu trilho, invisivel, insensivel...irreal.
Doi tanto ver o que não é para ver.
As horas censuram-me as rotas a percorrer, limpo as lágrimas...
Aqui no suplicio mortal da espera...é tarde demais para soluçar.
segunda-feira, maio 30, 2005
Annunciata
Num sorriso, nos passos que me precedem, nas palavras que me vestem.
Anuncio-me!
com a doçura de um beijo.
Com um olhar cor de mel que mantenho e cujos traços redefino, a cada dia, a cada batida do coração.
Anuncio-me!
nua, despida, completa, a mim, à minha voz.
Anuncio-me!
Com os gestos que me definem, anuncio a minha alma, o meu corpo, o sangue que me brota das veias e que o coração bombeia.
Anuncio-me!
E o anúncio forma os meus contornos, o meu viver!
Esse anúncio que cria a o espaço, vago, entre a espera e a revelação do ser.
Anuncio-me!
E os meus lábios traem-me....
não sou quem anuncio ser...
e na evidêndia da traição, grito o meu nome bem alto.
Pode ser que nas reverberações me reconheçam....
e que os erros da presença se diluam em mim...nos ecos das letras que grito.
Denuncio-me!
e na denuncia transparente, serena, sinto-me mais eu...mais plena.
O coração bombeia o sangue que me corre nas veias...
Denuncio-me...
e as palavras caem-me...
grito:
Annunciata, ata... ata
Me annuncio, io... io
O anúncio morre nas ondas do meu grito.
E por tudo aquilo em que acredito
O coração ainda bate...
Annunciata
me annuncio io... io
sábado, maio 28, 2005
Por aí
Eu posso ser um pássaro, uma folha, uma flor...e tu? por que ruas te passeias e a quem olhas nos olhos, quando estás triste?
Eu posso andar por becos, perdida em alamedas, mas sou eu que por aí ando, nesse mundo obscuro, nessas malhas em que me enredas.
Tu...quem serás?
Falas demais, e acusas-me de dizer demasiado....mas há pouco que me sirva de lição...quando quero entender o teu coração.
Como serás tu? com quem te pareces?
Podes ser filho de pais, de uma doença, da própria vida....mas nada te carrega ao colo...e tornas-te triste e irrelevante...
Eu posso ser filha da luz, do destino, ou da mesma vida que te fez criança...mas sei quem me carrega nos braços e quem me enche desta bem aventurança.
E então, quem são teus pais? Serão os medos, os desgostos, as inseguranças?
Porquê que dizes que me adoras, se, na tua raiva, me devoras e me queres tão mal?
Não te quero desiludir enquanto caminhas com a tua habitual pressa...mas também não ficava bem se não o dissesse....
Se não sabes que não gosto de pêssego e que prefiro o acre do alperce....desaparece....
Não tens nada de meu, não tens que estar na minha vida...
Eu levanto-me do chão e de cabeça erguida, percorro a minha viela até encontrar a avenida que me salvará da solidão.
Talvez um dia te veja por aí...a ti e a todos como tu....
E enquanto as palavras começam a fazer sentido e a juntar-se num papel, percebo que não é complicado seguir em frente e fazer-me igual a toda a gente.
Matas-te! Dizes-me quando digo que não me apetece ser diferente.
Tu já és diferente...
Enganas-te, ser deprimente.
Sou igual a todos, simples sincera, natural.
E não sei quem de nós dois vai ser o primeiro a ceder...no entanto não será dificil perceber que, no meu estado de espirito, não quero abdicar de mais nada...não te quero entender.
E eu sem ti posso ser tanta coisa...um pássaro, uma folha...uma flor.
E tu, vai-te embora de uma vez e leva contigo a dor.
Já não conheço as ruas escuras em que nos encontrámos, já não conheço o teu sorriso, parece-me um disfarce...
E se algum dia a saudade me atacar...é só ouvir o coração e esperar que passe.
Não penses que te quero mal. E se a tua consciência alguma vez te fizer pensar...lembra-te que sempre podes acender uma luz para te iluminar.
Entre nós dois há um abismo de gerações, de convivios, de emoções...querer ser diferente como tu, era entrar na minha nova estrada em contra mão. E, por acaso, haverá na tua estrada algum pássaro, alguma folha, alguma flor?
Sei que me vai custar não ter a tua imagem na minha linha do horizonte...mas ás vezes é melhor um planato do que precipitar-me sobre um monte.
Tu és o monte... eu quero a segurança. No entanto, enquanto tu existires haverá sempre esperança...que um dia te lembres de voltar.
Mas por enquanto, sinto muito, mas para além dos abismos que nos separam, não há nenhum vão para nos juntar....caminhamos em pistas opostas...
Mas se um dia me quiseres procurar, e encontrares uma desculpa para voltar, lembra-te que estou numa auto-estrada e para trás não posso andar...temos que caminhar a par.
Talvez um dia te veja por aí...a ti e a todos como tu...
Não me apetece ser diferente...e tu matas-me...ser deprimente.
Porque se não sabes que prefiro o acre do alperce....desaparece...
E leva contigo um pouco de luz, que bem precisas dela para te iluminar...eu...vou voar.
quarta-feira, maio 25, 2005
Idênticos
Digo que te amo. E tenho que gritar isso, porque estás surdo, e não me ouves.
Grito bem alto, e peço-te perdão.
Desculpa, meu amor, por tanto te amar, só te mato o coração.
E onde estás tu quando te chamo? São palavras que te peço, mas que não dizes...como se te partisse o coração falar. E quando te falo, será que me queres, que te envergonhas?
Somos iguais, similar, pareilles...mas...não te sirvo, meu amor. Que outro amor te serviria, senão o meu, que se cala e se asfixia?
Desculpa-me, se te quero, e se te obrigo a fingir....ma são só palavras...não devem ferir.
Desculpa-me se te quero, por ter cruzado o teu caminho...desculpa.
Porque será que apenas outro amor te serve?
E quem sou eu...só alguém que te chama por te amar....
E se somos iguais, similar, pareilles, não devia custar tanto conquistar. Mas fechas o coração e sorris, frio, triste, passando-me esta dor que ainda hoje me assiste...sabes? não te quero magoar...
Se eu me podesse despir de mim...de certeza que não encheria os teus dias de tormentos...
As roupas são dificeis de tirar, tenho-as na pele, nessa mesma pele que trago colada a mim, com o teu cheiro. Esse cheiro que amo e q odeio...Esse amor tamanho que podia ser tão cheio...
Digo que te amo. Tu manténs-te mudo. Talves porque muitos são os que te amam....e os que to relatam .Meu amor, que tanto queria extinguir, porque não me deixas? Ou então dz-me que me amas...já que tanto amas...dizer que somos espiritos iguais, tão similar...pareilles.
Mas não, tu não me amas...por isso eu hei-de continuar, hei-de dizer que te amo, à espera que que um dia te enganes e o digas...devagarinho, simplesmente!Na esperança que seja eu a estar muda e que não me possas ouvir...E mesmo que um erro seja e que te arrependas logo depois, eu hei-de de sorrir, alegre, por saber que este amor, este querer, mudou os sentidos dos dois.
Eu estou muda e não posso gritar..tu estás surdo e não queres amar.
E o coração? onde fica entre nós dois?
Desculpa se por ter (tanto) coração..mato o teu amor...perdão...se algum dia te achei a mim...idêntico...similar, pareille..a palavra que a mim se aplica é, cruamente..ilusão.