Fiz de mim página em branco, num exíguo colo cerceado.
Um silêncio que aperta e se sufoca, num espírito consumido e apressado.
Alguma coisa menor a que retorno. A parte invisível do meu ser que luto.
Ardem desfeitas as cinzas das lembranças que fundei.
A dor inutiliza e transforma. Vicia, corrompe, seduz, deforma.
Mas o peito não sangra, nem o coração se arranca num remate.
E na construção reduta em que me ergui e me transformo,
vive inalterável numa massa contráctil. E as veias levam o seu fluxo,
como um curso. Até ao átrio vazio desta face em que me anulo.
Um particípio vão e indefinido, revogado, prazo gasto.
Ponto esquivo as minhas roupas. Local estranho que criei.
Que também elas sejam cinzas nos teus braços. Não quero
esconder mais a minha pele.
quinta-feira, julho 15, 2010
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