Quanto tempo se passou sem estarmos juntos? Pergunto-me, como se disso dependesse manter a tua presença em mim.
Lembro-me, com a memória presente de uma menina de 13 anos, o carro preto que nos encaminhou ao teu destino e os teus olhos inocentes, sem saber o fim. Senti, que enquanto tu estavas, apenas, porque te tínhamos levado até ali, eu estava prestes a despedir-me de quem mais queria. Hoje, quem me dera, então, tê-lo sentido.
Sem adeus, sem um toque, sem sequer te dar o beijo que me obriguei a conter, despedi-me de ti, apenas com o pensamento. O mesmo que ainda hoje me leva a ti.
Na caixinha de memórias que estimo, sinto nos meus dedos os finos fios dos teus cabelos, cortados imperceptivelmente no último dia, não fosse precisar senti-los. Quatro anos que se resumem assim, umas quantas roupas que ainda conservam o teu cheiro, a tua primeira chupeta e uns poucos filamentos de cabelo em que toco com cuidado, não vá perder algum. O resto, guardo em mim, só em mim, porque ainda hoje, falar ainda me custa. Sem saber, foste o meu primeiro sonho, aquele que mais pedi e ansiei numa noite de fim de ano em que fechei os olhos e ousei implorar. E foste-me concedido, numa entrega complacente com a força de um desejo de criança. E foste o meu sol, o meu pequeno menino sol, que me iluminou, mesmo sem saber. Foste quem eu mais amei.
Quanto tempo passou? Será que disso depende manter vivo aquilo que sinto por ti? As horas esvaem-se, o tempo desfalece, tu cresces, tal como a saudade que sinto por ti.
Na memória, ainda um telefonema de um menino soluçante que suplicava entre gemidos para o pesadelo terminar…e a minha voz, tão cheia da tua, da nossa, dor. Ainda tentava esperar que o tempo ousasse voltar atrás.
Uma visita, outro carro que me transportava até ti e o meu coração palpitante de menina-mãe. Os teus olhos, de um castanho doce de mel misturado com avelã, a correrem para mim. E a fuga, o partir ao fim do dia, a última vez, rogando que não me visses. Para mim, já bastava um só sofrer. A cabeça deitada com o cansaço, a ecoar a música que me costumavas pedir para te adormecer. Nada ficou no lugar Eu quero quebrar essas xícaras Eu vou enganar o diabo
E quanto tempo se passou desde que nunca mais te vi? Os anos cresceram, a vida ganhou um outro rumo e o teu corpo cresceu. Sei que em sonhos, ainda te vejo tal e qual te deixei. Os cabelos loiros finos e brilhantes, tal como os da fotografia que conservo, viva em mim. E quantas dias já passaste? Quantas noites de frio? Sem mim…
Quantos anos passaste? Quantas velas apagaste? Hoje é só mais uma. Outra, sem mim.
Se cá estivesses, seria o teu dia, seria criança contigo, comeríamos bolo e desejar-te-ia o melhor que no mundo houver. Falaríamos de trivialidades e riamos até ser dia. Amanhã, será um novo dia para ti, para mim mais um igual. Como todos aqueles que preciso contar para estar certa de que passaram. Na minha boca, a promessa. Não me despedi. As palavras que não disse no pensamento, ficaram apenas em mim. Não disse, não quero dizer adeus. Não voltarei a encontrar-te, não o menino sorridente que guardo em mim. Ainda conservo a tua imagem nos meus sonhos e o teu cheiro. A música que cantavas com a tua vozinha infantil, ainda ecoa na minha cabeça, já erguida, e ainda te oiço em mim
Nada ficou no lugar Eu quero quebrar essas xícaras
“mana…eu quero tu…vem-me buscar…”
Que é pra ver se você volta, Que é pra ver se você vem, Que é pra ver se você olha, Pra mim...
“Meu amor, tu vais ver, como é bom sonhos ter...
Amanhã ao acordar, tudo vais querer contar
E depois, voltarás a sonhar.
Só aos Anjos, a lua sorri…”
Nada ficou no lugar Nada ficou no lugar Nada ficou no lugar…
segunda-feira, novembro 30, 2009
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